Carta da Indústria 772

ANO XX | 772 | MAIO | 2019 Firjan 8 CI: Poderia citar exemplos? Michele Villani: Os acordos comerciais e os regimes comerciais, como a iniciati- va “Tudo Menos Armas” (TMA) e o Siste- ma de Preferências Generalizadas Refor- çado (SPG+), prestam um forte apoio ao desenvolvimento sustentável, através da interligação do comércio com o desenvol- vimento e a boa governança. Os acordos comerciais modernos concluídos pela UE incorporam compromissos, por exemplo, em matéria de transparência regulamen- tar, luta contra a corrupção e práticas res- ponsáveis nas cadeias de fornecimento. A UE está atualmente negociando um acor- do comercial com o Mercosul, que incluirá também um capítulo em comércio e de- senvolvimento sustentável. Tomando como exemplo o mais recente acordo realizado pela UE – que foi com o Japão–, os princi- pais elementos negociados abrangem as- suntos como a aplicação das normas la- borais fundamentais da Organização In- ternacional do Trabalho (OIT), aplicação de acordos internacionais em matéria de ambiente e compromissos para promover a responsabilidade social corporativa, além de outras práticas comerciais e de investi- mento que apoiem o desenvolvimento sus- tentável. Hoje, mais do que nunca, o comér- cio livre e responsável é importante para o crescimento econômico e a criação de emprego. CI: Como transformar essas premissas em uma realidade? Michele Villani: Essa rede de políticas, inicia- tivas e acordos internacionais pode ficar no papel se, na sua execução, o trabalho não for em parceria com o setor privado. Por isso, a ação da UE em matéria de responsabili- dade social das empresas incentiva o setor privado a contribuir para a consecução dos objetivos sociais e ambientais, promovendo um crescimento equitativo e sustentável e a proteção dos direitos sociais. Através da pro- moção de regras internacionais e de normas mundiais em consonância com os ODS e da garantia de que o comércio beneficia a to- dos, podemos ajudar a alcançar uma Euro- pa sustentável num mundo sustentável. CI: Qual é a importância da responsabili- dade social das empresas nesse contexto? Michele Villani: Para a UE, a responsabili- dade social das empresas é a responsabili- dade delas pelo impacto que têm na socie- dade. Para cumprir plenamente esse papel, as empresas devem adotar processos com o objetivo de integrar as preocupações so- ciais, ambientais e éticas, o respeito aos direitos humanos e as preocupações dos consumidores nas respectivas atividades e estratégias. Isso deve ser feito em estreita colaboração com as partes interessadas, a fim de maximizar a criação de uma co- munidade de valores para proprietários e acionistas, demais partes interessadas e para a sociedade em geral; e identificar, evitar e atenuar os seus possíveis impac- tos negativos. Essa visão é coerente com o enquadramento internacional seguido por organizações como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econô- mico (OCDE), o Pacto Global das Nações Unidas, a OIT e a ISO. CI: De que forma a empresa pode iden- tificar os critérios de sustentabilidade como oportunidade de negócios? Michele Villani: Encarar a responsabilida- de social de uma perspectiva estratégica é cada vez mais importante para a com- petitividade das empresas e para reforçar sua participação nas cadeias globais de valor, pelos benefícios que pode acarre- tar em matéria de gestão dos riscos, redu- ção de custos, acesso ao capital, relações com os clientes, gestão de recursos huma- nos e capacidade de inovação. A criação de empresas social e ambientalmente res- ponsáveis pode gerar lucros e crescimento mais sustentáveis, novas oportunidades de mercado e um valor a longo prazo para os ENTREVISTA

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