Carta da Indústria 757

ANO XVIII | 757 | DEZEMBRO 2017 | JANEIRO 2018 Sistema FIRJAN 46 PERSPECTIVA investir nos gargalos de infraestrutura está reduzida. “O aumento da participação do setor privado tem o potencial de elevar a eficiência dos serviços públicos, além de gerar emprego e renda durante a execu- ção dos projetos”, informa Mercês. Assim como o estado do Rio, as pers- pectivas para o Brasil tendem a ser po- sitivas para o primeiro semestre. Marco Maciel, economista-chefe da Bloom- berg, detalha o panorama mundial e na- cional para 2018 em entrevista à Carta da Indústria. A Bloomberg foi parceira da FIRJAN em seminário realizado na sede da Federação, em dezembro, que deba- teu os possíveis cenários para a econo- mia brasileira e fluminense, bem como propostas para a retomada do cresci- mento e incremento da competitividade do país. Confira abaixo. CI – Como prevê o cenário econômico mundial para 2018? Marco Maciel – Para o primeiro semes- tre, vejo uma acomodação das expectati- vas relacionadas ao aumento de juros dos EUA. Ou seja, o mercado tende a embutir uma alta comedida dos juros. Porém, a partir do segundo semestre, a previsão é de juros maiores. Isso porque o merca- do espera uma política norte-americana mais agressiva em 2019, então já antecipa esse movimento para o segundo semes- tre. Portanto, podemos dizer que a pri- meira metade de 2018 será relativamente tranquila, acomodada em relação à alta de juros, enquanto a outra terá altas mais agressivas. Claro que isso tudo está sujei- to à inflação do país, que ainda deve ficar na faixa de 2% ao ano. A partir de 2019, ela pode ganhar um pouco mais de cor- po. Em relação à China, podemos dizer que o país continua surpreendendo com o crescimento de seu PIB, de 6,5%, aci- ma da expectativa, que era em torno de 5%. É esse fator que dá certa sustentação ao preço das commodities . Com uma China relativamente pujante, em 2019 e 2020 o custo das matérias-primas tende a não acomodar tanto. Ou seja, as pressões inflacionárias dos EUA viriam tanto pelo lado interno, com uma economia aque- cida, quanto pelo externo, com algumas commodities ainda mais elevadas, como grãos e alimentos em geral. A grande ex- ceção é o petróleo, em função da sua substituição gradual por energias mais baratas, forçando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) a aplicar uma política de contenção de produção para não deixar os preços caírem mais. CI – E quanto ao cenário geopolítico? Marco Maciel – Ainda estará contur- bado, mais do que se esperava. O fator Trump permanece como uma fonte de instabilidade como um todo, gerando volatilidade nos preços das commodities , nas cotações das moedas etc. A China também pode desestabilizar a econo- mia global, impactando o PIB mundial. Isso porque é esperado que haja uma redução da aceleração do crescimento chinês, que sustenta o valor dessas ma- térias-primas, importantes para os pro- dutores brasileiros. Para o ano que vem, esses são os pontos que me afligem. CI – Como essa conjuntura impactará o Brasil? Marco Maciel – Afeta por dois canais: câmbio e preços de commodities . Uma alta de juros nos Estados Unidos, por exemplo, torna o câmbio brasileiro mais volátil, ou seja, oscilando com mais in- tensidade, além de mais desvalorizado. Se a moeda de um país exportador de bens primários está assim, significa pre- ços mais baixos, prejudicando a econo- mia brasileira. Isso gera taxas de inflação mais elevadas, atrapalhando a condução da política monetária mais expansionista, que fechará 2017 com juros em 7%, com

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