Carta da Indústria 777

ANO XX | 777 | OUTUBRO | 2019 Firjan 8 ENTREVISTA Foto: Divulgação CI: Já existe estratégia para isso? Ricardo Yogui: Existe um movimento que envolve o ecossistema “academia-indús- tria-governo”, principalmente para gerar inovações de impacto social. Seria um ba- lanceamento da cadeia de valor, tentan- do contemplar pequenas empresas, star- tups ou a própria academia com projetos de inovação; além disso, também repensar os conceitos tradicionais de colaborado- res nas organizações. Fato é que vai ha- ver uma redução de empregos, e as pes- soas terão que se recapacitar. Há países que pensam em criar fundos para recapa- citação. Será preciso mudar muitos para- digmas sobre a forma que a indústria e o empresariado enxergam o negócio hoje. Esse contexto precisa ser discutido, porque a gente entrou em um trem de alta veloci- dade, chamado Indústria 4.0, e, sem deba- ter, talvez a gente não saiba onde vai parar. CI: Como avalia os desafios do Brasil? Ricardo Yogui: É importante pensar em uma estratégia de país. Tenho defendido que o Brasil tenha como foco o fomen- to de tecnologia na direção da Indústria 4.0 para os parques industriais brownfield (ociosos ou subutilizados, de revitalização complicada por contaminações ambien- tais ou outros fatores). Temos a possibilida- de de ser referência mundial, levando esse know how para outros países da América Latina e para as nações emergentes; e isso voltaria em riqueza que vai formar uma so- ciedade 5.0. Todos os atores – indústria, academia, sociedade, universidade – vão trabalhar para desenvolver essas tecno- logias, em vez de querer competir com uma Alemanha. CI: Como viabilizar essa estratégia, con- siderando o baixo nível de investimento atual e uma economia cujo PIB cresce muito pouco? Ricardo Yogui: Não fazer nada é abreviar a morte. A gente precisa enxergar que a nossa realidade é um pouco diferente de outros países. Temos uma capacidade cria- tiva muito forte. E eu consigo ver o seguin- te: excesso de recursos, às vezes, atrapalha a inovação. A escassez, às vezes, gera essa criatividade. Imagina se a gente pudesse orquestrar todo esse processo? O país, hoje, está trabalhando em excelentes frentes pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Ino- vação Industrial (Embrapii), que faz o movi- mento de incentivo à indústria 4.0. Imagina que a gente dê foco na questão de como o Brasil pode se tornar referência na indús- tria 4.0 para brownfield dentro dos parques existentes? Talvez seja esse o caminho para uma estratégia de país. CI: Voltando às relações de trabalho, quais conceitos estão sendo discutidos nesse âmbito? Ricardo Yogui: Existe uma tendência de fle- xibilização dessas questões. Quando olha- mos para a academia tradicional, vemos que as universidades preparam os profis- sionais para saírem praticamente empre- “ Excesso de recursos, às vezes, atrapalha a inovação. A escassez gera essa criatividade”

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