Carta da Indústria 782

ANO XXI | 782 | ABRIL | 2020 Firjan 34 O Brasil tem instrumentos, através de seus bancos públicos, que outros países não possuem para fazer essa ponte. Ela tem efeito nas empresas, na saúde do setor bancário e, portanto, na possibilidade de manutenção dos empregos formais e na geração de receitas ligadas ao setor formal da economia. No entanto, temos que iniciar um debate mais organizado sobre o lado informal da economia brasileira. CI: A conjunção do coronavírus e da nova crise do petróleo pode levar a uma crise pior que a de 2008? Livio Ribeiro: A mim, parece hoje que este evento tem muito mais similaridade com o 11 de Setembro do que com a crise de 2008. Até onde entendo, o nível de endividamen- to hoje é relativamente contido, exceto em alguns segmentos específicos, particular- mente nos setores corporativos america- nos. O fato gerador da crise de 2008, que foi a implosão de um castelo de cartas de risco financeiro, não é o mesmo. Estamos diante de um grande choque de demanda e de oferta, e de incerteza. Um shutdown da economia global: isso é muito semelhan- te ao 11 de Setembro. O que difere é que o evento do coronavírus tem a possibilidade de ser mais longo no tempo. Há também uma implicação muito relevante: ele pode ser um evento que nos faça emergir com novas diretrizes a respeito das prioridades de gasto público. É provável que mude- mos o pêndulo de gastos por conta desse choque, assim como ocorreu com o 11 de Setembro. Não colocaria o coronavírus no mesmo pacote da crise de 2008, embora ambos tenham implicações em termos de liquidez, crédito, capacidade das empresas e famílias honrarem seus compromissos. Na minha visão, estamos diante de um 11 de Setembro ampliado. CI: Quais desafios temos pela frente global- mente, nacionalmente e no estado do Rio? Livio Ribeiro: De modo geral, teremos dois grandes problemas: uma desaceleração importante de demanda e de oferta que não estamos vendo ainda, mas que pos- sivelmente vem pela desorganização das cadeias globais de valor. Em termos líqui- dos, me parece que, no caso brasileiro, fa- laremos de um choque desinflacionário. Em relação ao Rio, os royalties de petróleo têm uma importância muito grande. A cri- se dentro da crise para o Rio é muito séria. Ao mesmo tempo, há uma pressão grande para um aumento de gastos com saúde pública. Tudo isso se agrava em um cenário em que as receitas já estavam pressiona- das a nível estadual em termos capacida- de de recebimento de royalties. O cenário tende a piorar para a economia fluminen- se. E não tem muito para onde fugir. Temos a discussão mais conjuntural e vamos ter a discussão de como emergir da crise. Quais serão as pressões e quais serão as novas prioridades em termos de gasto e alocação dos recursos? Esta é a grande questão. CI: A indústria do Petróleo e Gás Natural representou 68% da pauta exportadora do estado em 2019, e a China foi o desti- no de 69% dessas exportações fluminen- ses de petróleo. Como avaliar esse mo- mento para o estado com o coronavírus? Livio Ribeiro: Olhando especificamente o aspecto de volume de exportação, não fico tão preocupado porque a China não irá parar de consumir petróleo para sempre. Quando a retomada da economia chine- sa vier – e ela não vai demorar muito, a meu ver – teremos uma recomposição dos estoques, e petróleo é algo que podemos comprar e guardar. Então não há por que pensarmos em perda permanente de volu- me exportado. O que temos no momento é um colapso de preço. Vamos perder receita de toda forma, mas essa questão de ex- portar menos para China será recomposta no futuro – certamente a um preço médio infinitamente inferior ao do ano passado, sem dúvida. ESPECIAL CORONAVÍRUS

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