PÁG. 12
6 A 19 DE FEVEREIRO DE 2017 | CARTA DA INDÚSTRIA
E
ENTREVISTA
CARTA DA INDÚSTRIA –
De
forma geral, é possível dizer que
2017 será um ano mais próspero
que 2016?
JOSÉ AUGUSTO DE CASTRO –
Em princípio sim, mas
trata-se de uma melhora de base
pequena. Há um crescimento
previsto de exportações em
decorrência do preço. Em vias
gerais, acredito que 2017 possa
ser um ano melhor do que 2016,
mas precisamos estar atentos às
conjunturas internacionais, como
os desdobramentos da eleição
de Donald Trump e os reflexos
comerciais e/ou protecionistas
decorrentes do reconhecimento,
ou não, da China como economia
de mercado.
CI –
As projeções para exportação
são de aumento de 7,2%. Quais
mercados podem ter melhor
desempenho nesse cenário?
JAC –
Esse aumento é
basicamente por preço. O
destaque é para as
commodities
,
principalmente minério de
ferro, petróleo e soja. Claro que
outros produtos também serão
contemplados, mas os protagonistas
são esses três, que têm a China
como principal mercado.
CI –
Também existe a previsão do
aumento de 5,2% em importações.
A que podemos atribuir esse dado?
JAC –
O primeiro fator é uma
questão de decisão das empresas,
que, entre aumentar a produção
e importar, tendem a decidir pela
importação. Outro ponto é o foco
na manutenção de máquinas e
equipamentos. Os bens de capital
vão cair, mas a importação de
peças e material de transporte
tende a crescer. Tanto a importação
quanto a exportação de petróleo
devem subir e, se a taxa de
câmbio se mantiver no patamar de
R$ 3,30 a R$ 3,40 em relação ao
dólar vai ajudar. O cenário mudou,
as importações e exportações ainda
são baixas, se comparadas a 2011,
por exemplo. Mesmo que haja um
aumento em 2017, hoje não temos
preço competitivo nas exportações.
Erik Barros Pinto
Investir na exportação é um dos
caminhos para estimular a economia
e a competitividade das empresas,
especialmente no processo de
retomada do crescimento do país.
Em entrevista à Carta da Indústria,
José Augusto de Castro
, presidente
da Associação de Comércio Exterior
do Brasil (AEB), aponta as principais
perspectivas para os negócios
internacionais e como deve se
comportar a balança comercial do
Brasil em 2017.
PERSPECTIVAS PARA O
COMÉRCIO EXTERIOR
CI –
Outra projeção é que o superávit
comercial tenha um recorde
histórico. Isso, de fato, é positivo?
JAC –
O superávit é sempre bem-
vindo, mas ele vem à custa de forte
contração na importação. Essa
projeção está muito abaixo de 2011,
que era de R$ 256 milhões. Houve
queda também na exportação. O que
gera ativos econômicos e empregos é
a corrente de comércio. O superávit é
mera consequência.
CI –
Quais são as projeções para o
mercado de manufaturados?
JAC –
A previsão é de uma pequena
queda de 1,1%. Não temos um
câmbio competitivo, as reformas
internas vão demorar dois ou três
anos para acontecer, assim como
os investimentos em infraestrutura.
Não há nada que possa estimular as
exportações. Em 2016 houve uma
leve recuperação graças a venda das
plataformas de petróleo, cujos valores
atingiram US$ 3,6 bilhões. Mas, em
2017, essa previsão não existe. Se isso
se cumprir, a queda da exportação
dos manufaturados será ainda maior.