Rafael Cal
vende-se uma geladeira azul
Núcleo de
Dramaturgia/2014
13
12
JOÃO
Tenho, Anna. Eu vi a vovó mexendo nos potes ontem.
BERNARDO
Não tô vendo nada.
JOÃO
Essa geladeira é grande, atrapalha tudo.
ANNA
Vou pegar a cadeira pra ajudar.
Os três arrastam a cadeira juntos e Anna sobe nela pra pegar o pote de sorvete. Ao
abrir, descobre que é feijão que está guardado no pote.
ANNA
É feijão.
João chora. Bernardo lamenta. Anna fica meio chateada de ter parado a brincadeira
à toa.
JOÃO
Eu odeio essa geladeira.
CENA 1
Dias atuais. Os personagens são adultos, em torno dos 30 anos.
Anna está na cozinha da antiga casa da avó. O local parece meio abandonado, não
há muita coisa, apenas uma geladeira azul e uma mesa. Ela fotografa a geladeira e
passa a mexer no telefone. João chega.
JOÃO
Ei.
ANNA
Oi, tava tentando falar com você.
JOÃO
Meu telefone não pega aqui.
ANNA
Ele não pega em muito lugar, né? Nunca consigo falar com você...
JOÃO
Telefone é um símbolo da dominação do homem, do triunfo do capitalista sobre
o ser humano, é...
ANNA
João, corta essa, você só é mão de vaca, compra esses telefones vagabundos que
vivem dando pau, não tem nada a ver com a luta anticapitalista.