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28 DE AGOSTO A 3 DE SETEMBRO | CARTA DA INDÚSTRIA
CARTA DA INDÚSTRIA –
Quais são as expectativas do
governo para a COP 21?
EVERTON LUCERO –
Levaremos propostas concretas,
que já antecipamos e divulgamos desde o ano passado.
Vamos com o espírito de contribuir para que o resultado
da COP 21 seja um novo acordo que dê continuidade à
convenção do clima de uma forma ambiciosa, justa
e equilibrada.
CI –
Como decisões tomadas em conferências
climáticas globais, a exemplo da COP 21, impactam as
indústrias do Brasil?
EL –
Acreditamos que as indústrias têm um papel
importante a desempenhar, na medida em que, cada
vez mais, devem se atualizar em termos de patamares
tecnológicos que sejam ambientalmente sustentáveis.
Isso precisa ser feito dentro de uma perspectiva de longo
prazo, mas que não traga dificuldades para o país em
termos econômicos. Devemos observar esse acordo
e regime de mudanças do clima não só da perspectiva
ambiental, mas sim como oportunidades para o
desenvolvimento. Como podemos nos beneficiar com a
economia global de baixo carbono? Uma coisa é certa,
estamos diante de um processo inevitável e irreversível,
que ruma para uma economia com emissão mais baixa
de carbono. A partir dessa perspectiva, buscamos as
melhores oportunidades.
CI –
É possível que haja algum mecanismo para
beneficiar empresas que reduzam a emissão de gases
de efeito estufa e economizem recursos?
EL –
Uma vez que tenhamos um acordo em Paris,
teremos que definir internamente quais políticas
e regulamentações serão feitas. Mas, certamente,
haverá incentivos para que as indústrias que tenham
baixa intensidade de emissões possam ampliar seus
investimentos e ter alguma espécie de distinção em
relação aos esforços que empreendem para mitigação.
Mas ainda é cedo para definir esses incentivos, porque
isso irá requerer uma articulação interna no governo e
também uma conversa com os setores.
CI –
Os presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama
fizeram a Declaração Conjunta Sobre Mudança de
Clima. Que benefícios essa aproximação com os Estados
Unidos na área ambiental traz ao Brasil?
EL –
A declaração prevê a iniciativa conjunta dos
dois países em três áreas: na área de captação de
investimentos para reflorestamento, na área de
energia, sobretudo energias renováveis, e na área de
adaptação aos impactos da mudança do clima. Então
são três vertentes de uma iniciativa conjunta que será
implementada daqui para frente. Isso trará oportunidades
para que o Brasil tenha maior acesso a tecnologias. O
que, aliás, é coerente com o que diz a convenção da ONU
sobre a mudança do clima, quando estipula que os países
desenvolvidos e detentores de tecnologia assumam a
obrigação de transferi-la aos países em desenvolvimento.
Então, bilateralmente, nós estamos dando efeito prático a
esse contexto multilateral mais amplo.
Fabiano Veneza
Os acordos para controle das mudanças
climáticas não só causam impacto ambiental
positivo, como também trazem oportunidades
de desenvolvimento. O argumento é de
Everton
Lucero
, chefe da Divisão de Clima, Ozônio e
Segurança Química do Itamaraty. Em entrevista
à Carta da Indústria, o diplomata comenta as
expectativas do governo brasileiro para a 21ª
Conferência do Clima (COP 21), que será realizada
em dezembro, e como as indústrias poderão se
beneficiar das decisões tomadas no encontro.
Lucero participou do Seminário Ação Ambiental
2015 na FIRJAN.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS COMO
PROPULSORAS DO DESENVOLVIMENTO
E
ENTREVISTA