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PÁG. 3

31 DE JULHO A 6 DE AGOSTO | CARTA DA INDÚSTRIA

CARTA DA INDÚSTRIA –

Quais problemas a atual

tributação sobre vendas de bens e serviços gera para

as indústrias?

JOSÉ TEÓFILO OLIVEIRA –

O que chama atenção

é que, na comparação com outros países, o Brasil

cobra muitos impostos. E a participação deles sobre

bens e serviços aqui é bem maior do que em

economias de renda média como a nossa. Da carga

tributária total, 45% são arrecadados sobre venda de

bens e serviços. Nos países de rendas média e alta,

esse número é da ordem de 30%. Além disso, esses

tributos são distribuídos de forma desproporcional no

valor agregado dos vários setores. Idealmente, deveria

haver mais igualdade. Quando é desigual, viola-se a

norma do princípio da neutralidade em tributação,

são geradas ineficiência na economia e distorção na

alocação de recursos.

CI –

Quais seriam as alternativas viáveis para

solucionar distorções do regime de substituição

tributária do ICMS?

JTO –

Essa é uma gravíssima distorção. Ela foi estendida

a inúmeros segmentos de atividade do setor industrial

sem justificativa razoável. Isso configura um grave erro

dos estados, prejudicando contribuintes e cobrando

impostos quase de forma arbitrária. A conveniência do

Fisco não pode ditar as normas tributárias do Brasil. A

solução seria a criação de uma legislação federal que

estabelecesse uma lista positiva do que poderia ser

incluído nessa regra. Uma lista restrita, para ser aplicada

aos setores oligopolizados da produção e em produtos

homogêneos, que têm poucos produtores e uma rede

de distribuição pulverizada. Nesse caso faz sentido.

CI –

Como o senhor avalia a proposta de reforma do

ICMS?

JTO –

Vejo com certas reservas. O alvo principal dela

é acabar com a guerra fiscal, e isso é muito pouco. Há

outros problemas que não estão sendo tratados, como

os créditos acumulados na exportação, que não estão

sendo pagos. Além disso, o ICMS abusa da substituição

tributária e nada é feito para solucionar isso. Há também

um excesso de obrigações acessórias. O que vemos

hoje é a criação de mais obrigações para beneficiar

o Fisco com um volume de informações que ele não

é nem capaz de tratar. É uma reforma parcial, trata

apenas de um dos problemas, que talvez nem seja o

mais importante.

CI –

Em outros países, há bons exemplos em relação à

tributação de bens e serviços?

JTO –

Nós precisamos de um verdadeiro Imposto sobre

Valor Agregado (IVA) no Brasil. Hoje ele é praticado

em aproximadamente 150 países do mundo. Nossas

autoridades poderiam se inspirar no modelo europeu, o

melhor do mundo. Ele tem base ampla, alcança quase

que a totalidade de bens e serviços comercializados,

enfatiza a ideia de alíquota única sobre bens e serviços e

é autolançado. Além disso, a substituição tributária não

pode ser praticada, pois quem declara o que tem que

pagar ou receber é contribuinte. Para o Brasil, o ideal

seria criar um IVA federal fundindo o IPI, PIS e COFINS.

Vinícius Magalhães

Está em discussão, no Senado Federal,

a reforma do Imposto sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços (ICMS). A proposta se

concentra na convalidação dos incentivos

fiscais e na unificação da alíquota interestadual

para dar fim à chamada “guerra fiscal” entre os

estados. Em entrevista à Carta da Indústria,

José Teófilo Oliveira

, consultor tributário,

faz uma avaliação do projeto de mudança do

imposto e aponta as alternativas para os principais

problemas tributários do país.

MUDANÇAS EM CURSO

NO ICMS

E

ENTREVISTA