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13 A 26 DE JUNHO DE 2016 | CARTA DA INDÚSTRIA
E
ENTREVISTA
CARTA DA INDÚSTRIA –
Como avalia a relação entre
investimento social e negócios no Brasil?
ANDRÉ DEGENSZAJN –
Nas últimas décadas,
algumas mudanças têm acontecido na relação entre
as empresas e a forma com que elas lidam com
investimento em social. Tínhamos um contexto,
que é da década de 90, de separação clara entre
o
core business
(parte central do negócio) e a
responsabilidade social. Com o tempo, a expectativa
da sociedade sobre as companhias foi mudando e não
era mais aceitável que uma empresa, na gestão do seu
negócio, não contemplasse princípios sociais.
CI –
De que forma o investimento social agrega valor
ao negócio?
AD –
Toda a discussão do alinhamento está ligada a
essa ideia da ampliação da geração de valor. Se
houver, pela empresa, uma visão de curto prazo,
dificilmente o investimento social será algo que valha
a pena. Agora, olhar no longo prazo, para a percepção
que a sociedade tem do seu papel e para os vínculos
estabelecidos com o
core business
, será determinante
para o futuro dessa empresa.
CI –
Quais as oportunidades e riscos identificados?
AD –
O estudo aponta claramente que a principal
oportunidade para a empresa é mobilizar o conjunto
da companhia para a geração de impacto social,
transformando seu negócio e a sua inserção na
sociedade. Essa aproximação qualifica o aporte social,
mas também gera uma sobreposição entre interesse
privado e público. Entretanto, é preciso estar atento
para que não haja desvio da finalidade original da
proposta. O risco é que os institutos passem a defender
os interesses de negócio, quando a sua missão é
trabalhar pelas causas a que ele se dedica. Criar ações
voltadas para divulgar produtos e serviços da empresa
seria um claro desvio da finalidade, por exemplo.
CI –
Como potencializar o impacto do investimento
social feito pelas empresas?
AD –
Temos visto cada vez mais empresas e
institutos agindo conjuntamente, o que chamamos
de coinvestimento. Pode acontecer na busca de
apoiadores, para ampliar escala, ou com projetos que já
são concebidos de forma conjunta, a partir da leitura de
que os problemas enfrentados são grandes demais para
serem resolvidos de forma isolada. Há muitas maneiras
de potencializar o investimento, mas talvez a mais
central seja a articulação desses investimentos com as
políticas públicas nas áreas em que eles trabalham.
CI –
As empresas de pequeno porte podem participar
desse movimento?
AD –
É natural que nas pequenas empresas esse
investimento seja mais instrumental, mais utilitário
ao negócio. Mas há algumas experiências muito
interessantes hoje, como os fundos que apoiam
projetos em determinadas áreas e que poderiam
receber esses recursos. Exemplos são o Fundo Brasil de
Direitos Humanos, Fundo Baobá, de igualdade racial,
e o Fundo Elas, que é um fundo de gênero, além de
fundações comunitárias, como o Instituto Rio, que
trabalha pelo desenvolvimento local.
Renata Mello
O estudo “Alinhamento entre Investimento Social
Privado e Negócio”, realizado pelo Grupo de
Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), aponta
que o aporte privado é potencializado quando
as empresas alinham o planejamento de ações
sociais à gestão de seus negócios. Em entrevista
à Carta da Indústria,
André Degenszajn
,
secretário-geral do GIFE, detalha tendências
e oportunidades identificadas. Em maio, ele
participou de reunião do Conselho Empresarial
de Responsabilidade Social do Sistema FIRJAN.
INVESTIMENTO SOCIAL
É UM BOM NEGÓCIO