13 A 19 DE MARÇO | CARTA DA INDÚSTRIA
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ENTREVISTA
CARTA DA INDÚSTRIA –
Qual a atual perspectiva
para o pré-sal do Brasil com relação ao
shale gas
norte-americano?
ADRIANO PIRES –
Recentemente, o preço do petróleo
caiu cerca de 40% no mercado internacional, passando
a flutuar em níveis entre US$ 50/60 por barril, que se
compara aos US$ 90/110 por barril observados no
pós-crise de 2008. No caso do gás natural, o ajuste de
preço foi de apenas 26%. A queda mais pronunciada
do preço do petróleo prejudica a atratividade de
prospecção e exploração do pré-sal que, por ser em
águas profundas, tem elevado custo. No caso do
shale gas
norte-americano, além da queda de preço
ter sido menos pronunciada, ainda há incentivo, como
o início de um movimento de exportação do gás
natural. Atualmente, cinco novos terminais de Gás
Natural Liquefeito (GNL) estão sendo construídos nos
EUA voltados para exportação. A perspectiva de novos
mercados consumidores tem contribuído para sustentar
os preços e o investimento em gás natural no mercado
norte-americano. Além do impacto sobre a cadeia
produtiva, a queda de preços de petróleo afetará a
arrecadação de royalties este ano, que deverá cair cerca
de 20% em relação a 2014. O impacto só não é maior
por conta da desvalorização do real.
CI –
No atual cenário, como garantir gás natural para
a indústria?
AP –
No curto prazo, o aumento poderia ser suprido via
aumento da importação de gás GNL. Os terminais de
GNL trabalham com elevada capacidade ociosa,
que foi em média de 60% entre 2010 e 2014. Já no
médio e longo prazos é esperado um aumento de oferta
de gás natural, que está relacionado com o aumento
da produção de gás natural associado, proveniente da
produção de petróleo no pré-sal. É importante
ressaltar que os problemas enfrentados pela Petrobras
podem comprometer o ritmo de expansão da
produção doméstica.
CI –
O que é preciso para expandir a utilização de
gás natural?
AP –
No mercado de gás natural ainda existem
algumas barreiras a serem vencidas para o seu
desenvolvimento. Para expandir a oferta é necessária a
transposição dessas barreiras, por meio de um grupo
de ações: estabelecimento de uma política, pela
Petrobras, de concessão de acesso à infraestrutura;
realização contínua de leilões anuais para novas áreas de
exploração de petróleo e gás natural; desoneração fiscal,
com redução de PIS/COFINS e ICMS; estabelecimento
do preço único para o gás natural; e a criação de uma
regulação específica para a exploração em terra por
pequenas e médias empresas, com redução de
royalties
,
incentivos fiscais e financiamento. A curto prazo, a
intensificação do uso do gás natural em projetos de
cogeração e geração distribuída seria uma alternativa
para a indústria aliviar o impacto da elevação das tarifas
de energia elétrica. Para o sucesso dessa alternativa,
são necessários ajustes na regulação do setor elétrico
para agilizar e tornar mais atraentes os investimentos
em tais projetos.
Divulgação/CBIE
Adriano Pires
é sócio-fundador e diretor do Centro
Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), empresa de
consultoria e informação especializada em serviços
de inteligência e gestão de negócios no mercado de
energia. Nesta entrevista à Carta da Indústria, ele
indica os caminhos para a expansão da utilização de
gás natural pela indústria. Pires participará do seminário
“O Setor Produtivo e a Energia – Questões e Soluções
da Indústria em Tempo de Crise Energética”, no dia 27
de março, na sede do Sistema FIRJAN.
GÁS NATURAL
PARA A INDÚSTRIA