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21 A 27 DE AGOSTO | CARTA DA INDÚSTRIA
O debate político e econômico nacional nos últimos
meses vem reservando um lugar especial para o setor
elétrico. Nos primeiros meses deste ano, a discussão
esteve centrada nos riscos em torno do abastecimento
de energia elétrica no país. Medidas emergenciais
foram adotadas do lado da oferta, o que, associado a
uma demanda menor, possibilitou
afastar o cenário de restrição
de oferta de energia. De fato, o
desaquecimento da economia,
em particular da indústria, teve um
papel relevante para equacionar
temporariamente o descasamento
entre a oferta e a demanda por
energia elétrica no país.
Em que pese a importância dos
fatores conjunturais, atualmente
são questões estruturais que mais
preocupam. Diversos fatores que
intervieram no planejamento e na
operação do parque energético na
última década colocam em alerta
a segurança energética nacional
e afetam diretamente o preço da
energia elétrica, que se encontra
em patamar extremamente elevado
e sem perspectiva de redução a curto e médio prazos.
Os sucessivos problemas nos cronogramas das obras
das usinas, em grande parte atribuídos a problemas no
licenciamento ambiental e prazos dilatados na entrega
das linhas de transmissão, contribuem fortemente para
esse quadro. É imprescindível assegurar a execução
das obras nos prazos estabelecidos pelo planejamento
como forma de garantir a segurança energética no país.
Outro fator é a opção pela construção de usinas a fio
d’água, que dependem da vazão dos rios, em detrimento
das usinas de grandes reservatórios de acumulação. As
hidrelétricas com grandes reservatórios de acumulação
permitem que a água armazenada durante o período
úmido (dezembro a abril) seja utilizada no período seco
(maio a novembro) para gerar energia, reduzindo os
impactos das sazonalidades climáticas e possibilitando
melhor equilíbrio entre oferta e demanda.
De fato, a combinação da expansão da oferta de
energia hidrelétrica baseada em usinas a fio d’água
com a hidrologia desfavorável desde 2012 teve como
consequência a redução dos níveis dos reservatórios.
Atualmente, o nível do principal subsistema do país, o
Sudeste/Centro-Oeste, encontra-se abaixo de 40%, ante
um patamar acima de 70% em julho
de 2012. Esta realidade exigiu o
acionamento térmico constante
nos últimos três anos. Como
resultado para os consumidores
finais, está a elevação do custo
da energia elétrica. Após uma alta
de cerca de 20% em 2014, desde
o começo deste ano, o custo da
energia para a indústria no Brasil
sofreu uma variação superior a 50%,
o que, em um contexto de retração
econômica, contribui para arrefecer
ainda mais a atividade industrial.
A situação do setor elétrico,
portanto, deve ser avaliada com
cautela. A curto prazo, o desafio
do país é chegar ao fim deste ano
com o nível dos reservatórios
no patamar mínimo necessário
para atender a demanda da sociedade e permitir uma
operação confortável do sistema no ano vindouro.
É importante, desta forma, que seja dada prioridade
ao planejamento no setor, com olhar de longo prazo,
mitigando a exposição do país às variações climáticas
antes extraordinárias, e, atualmente, cada vez mais
ordinárias. Uma possibilidade para o planejamento
energético é a previsão de termelétricas de acionamento
rápido e contínuo. Em paralelo, iniciar, desde já, um
programa consistente de construção de novas usinas
nucleares, como anunciado pelo governo, é de vital
importância. Ademais, essa energia deve ser fornecida
na quantidade e na qualidade adequadas, com custo
competitivo para a indústria brasileira. A adoção dessas
medidas poderá permitir ao setor elétrico seguir, como
sempre, garantindo a segurança energética do país,
condição necessária para que a economia brasileira volte
a crescer, a curto prazo, de forma sustentável.
DESAFIOS PARA O
SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO
O
OPINIÃO
Sergio Malta
Presidente do Conselho de Energia Elétrica
do Sistema FIRJAN
Tatiana Lauria
Assessora do Conselho de Energia Elétrica
do Sistema FIRJAN
É importante que seja
dada prioridade ao
planejamento no setor,
com olhar de longo
prazo, mitigando a
exposição do país às
variações climáticas
antes extraordinárias,
e, atualmente, cada vez
mais ordinárias