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PÁG. 12

19 A 25 DE JUNHO | CARTA DA INDÚSTRIA

O ajuste fiscal é uma questão de sobrevivência. O

Brasil só poderá crescer novamente se corrigir erros

de um passado recente cuja dimensão torna ainda

mais desafiador o reordenamento das finanças

públicas. A missão fica mais difícil num cenário de

turbulência política que não se via há cerca de 20 anos.

Ao menos enquanto se processa a correção de rota

da economia, é necessária uma trégua que mobilize

todas as forças políticas.

É inaceitável que uma guerra de interesses particulares

e de partidos paralise o país. Inviabilizar o ajuste é

inviabilizar o crescimento. É legar um Brasil mais pobre

às próximas gerações. Nesse sentido, o governo tem

de ser firme e manter-se imune às pressões internas e

externas. Recuar para atender a este ou àquele interesse

é postergar a retomada da atividade econômica.

Em muitos aspectos, o ajuste fiscal não assumiu

a forma que a indústria desejava, mas, como

representantes do empresariado, temos manifestado

apoio ao esforço do ministro da Fazenda. Está claro

que Joaquim Levy é o fiador dessa correção de rota do

país. O Brasil viveu, no final do ano passado, uma crise

de confiança da qual havíamos nos desacostumado

em tempos recentes. Nos últimos meses, a percepção

interna e externa começou a mudar para melhor.

Não podemos permitir que o humor dos investidores

ou da sociedade piore diante da desconfiança de

que a política comprometerá a melhor condução

da economia.

A superação desse cenário adverso depende da

sinalização clara de que a mudança de rumo da política

econômica veio para ficar. A responsabilidade na

condução do ajuste fiscal é precondição nesse sentido.

Entendemos que cabe colaborar neste processo não

apenas com a visão crítica, mas com alternativas

factíveis. A proposta é simples: um ajuste fiscal que

combine redução dos gastos públicos correntes com

um programa de privatização. Os gastos de custeio

da União dobraram na relação com o Produto Interno

Bruto (PIB) desde 2008: passaram de 3,1% para 6%

do PIB. Nossa proposta é a fixação de metas anuais

de redução das despesas de custeio num ritmo que

permita retomar aos níveis de 2008 (em tomo de

0,7% ao ano). Um horizonte de tempo desejável seria

alcançar tais patamares já em 2018.

É importante ainda criar uma “regra de ouro” que torne

obrigatório manter a elevação dos gastos correntes

sempre abaixo do crescimento do PIB. A medida

impediria que políticas fiscais adotadas em períodos de

menor crescimento custeassem gastos correntes em

detrimento dos investimentos.

Uma outra vertente envolve um tema sensível: a

implementação de um programa corajoso de venda

de ativos públicos. O foco sugerido é para os setores

bancário e de infraestrutura. No setor bancário, o

governo poderia vender até 49,9% do capital de

algumas instituições públicas. Na infraestrutura, a

maior parte das receitas viria da privatização total das

operações de geração e distribuição de energia elétrica.

Essas ações permitiriam uma geração de receita da

ordem de 4% do PIB.

A expansão dos investimentos em infraestrutura num

ambiente de restrição fiscal é um grande desafio.

Talvez esteja aí uma das chaves para esta retomada tão

desejada do crescimento. As Parcerias Público-Privadas

(PPPs) e as concessões, se ajustadas, permitirão esse

desafogo do país.

A carga tributária está matando a indústria brasileira.

É preciso levar em consideração que o setor privado

é hoje o único motor possível para a retomada da

atividade econômica E isso só será possível com um

mínimo de competitividade. Uma indústria forte é

fundamental para resgatar a confiança dos investidores

e da população – e reconduzir o Brasil ao trilho do

crescimento. O ajuste fiscal é imprescindível, mas

seus efeitos podem ser mais ou menos nocivos

ao investimento e ao emprego. A redução dos

gastos públicos correntes e a privatização de ativos

estratégicos teriam o poder de tornar mais suave o

pouso que Levy procura realizar em meio à tempestade

política e econômica dos últimos meses.

PROPOSTAS PARA

RETOMAR OS TRILHOS

* Artigo publicado no jornal

O Estado de S. Paulo

, em 17 de junho de 2015.

http://goo.gl/IFXJ6f

O

OPINIÃO

Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira

Presidente do Sistema FIRJAN