SISTEMA FIRJAN
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SÚMULA AMBIENTAL | SETEMBRO DE 2015
Ana Oestreich
Consultora de Serviços Tecnológicos
CTS Ambiental
“É inútil forçar os ritmos da vida. A arte de viver consiste
em aprender a dar o devido tempo às coisas.” Assim
disse Carlo Petrini, fundador do movimento S
low Food
,
criado em 1989 na Itália em contraponto ao
Fast Food
. O
movimento busca melhorar a qualidade da alimentação
e garantir o tempo necessário para saborear, apostando
na qualidade de vida. Seu princípio é o prazer da
alimentação, utilizando produtos de qualidade especial,
produzidos com respeito ao meio ambiente e aos
produtores.
O
Fast Food
oferece alimento de baixa qualidade nutritiva
que pode ser ingerido rapidamente, e trabalhadores e
estudantes permanecem o menor tempo possível no
intervalo para refeições. É uma comida produzida de
forma massiva a baixo custo,
com muitas calorias. Pouco tempo para alimentar-se
e preparar os alimentos favorece a monocultura e o
desperdício, o que significa oportunidade para poucos e
sacrifício dos recursos naturais.
Para o consumidor, o resultado da cultura do
Fast Food
é uma geração de obesos desde a infância, devido à
ingestão de grandes quantidades de açúcar, gorduras e
farináceos. De acordo com o Ministério da Saúde, a taxa
de obesidade no Brasil é de 17,9%. Uma em cada três
crianças têm sobrepeso e grande probabilidade de morrer
antes de seus pais.
Os custos da ineficiência da produção e entrega de
alimentos saudáveis se refletem em toda a cadeia, desde a
compra no mercado até o produtor rural. Segundo a FAO,
o Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam
comida. A Embrapa contabilizou que 26,3 milhões de
toneladas de alimentos vão para o lixo anualmente, sendo
45% hortaliças e frutas, maior fonte de vitaminas e fibras.
Pesquisadores da Esalq/USP apontam que o montante
de frutas e hortaliças descartado no Brasil e na Europa é
semelhante, mas ocorrem em etapas distintas. Enquanto
por aqui as maiores perdas são durante o processamento,
manuseio e armazenamento, no cenário europeu é o alto
nível de exigência do consumidor que gera desperdício.
A Embrapa quantificou as perdas em cada etapa
da cadeia:
• 10% no campo;
SLOW FOOD
:
QUANDO SAÚDE E MEIO AMBIENTE GERAM BONS NEGÓCIOS
• 50% no manuseio e transporte;
• 30% na comercialização e abastecimento;
• 10% no varejo e consumidor final.
Os alimentos não aproveitados representam 1,4% do PIB.
Se reduzisse essas perdas, o Brasil poderia oferecer mais
produtos para o mercado interno, barateando os preços,
e também exportar mais.
Estas perdas também exercem grande impacto no meio
ambiente, visto que 70% da água do mundo são utilizados
na agricultura. Além disto, produções convencionais
demandam terra agriculturável e uma grande quantidade
de produtos químicos, geralmente aplicados em excesso,
prejudicando o ambiente, o trabalhador e o consumidor.
Os resíduos orgânicos desperdiçados terminam em
aterros e lixões, gerando metano, um gás de efeito estufa
21 vezes mais intensivo que o CO
2
.
A mudança desse modelo demanda um choque radical na
cultura de produção e consumo. Para o setor produtivo,
são necessárias ferramentas e estratégias que minimizem
os desperdícios de água e energia e o uso excessivo de
produtos químicos, ao mesmo tempo em que otimizem
a produção agrícola. Estratégias como a aquisição da
função dos produtos químicos em lugar de comprar
quantidades de fertilizantes e defensivos agrícolas,
conhecida como
Chemical Leasing
, mostram economias
de 30 a 50% em custos e produtos.
Na indústria, o ciclo de vida, a certificação dos produtos
e a Produção mais Limpa permitem economias da ordem
de 5 a 50%. Isto significa o retorno ao processo de parte
das matérias-primas, anteriormente desperdiçadas, com
custos de produção, transporte e destinação sobrepostos.
Finalmente, aproximando-se ao conceito de
Slow Food
,
um comércio mais justo, econômico e sustentável é
alcançado com arranjos locais para oferta de alimentos
e matérias-primas, tanto para as áreas de turismo como
em zonas industriais, onde as cozinhas alimentam
centenas de trabalhadores, e com a proximidade com
os fornecedores de alimentos e a relação de confiança
e customização de clientes. Ganham os elos da cadeia
produtiva, os consumidores e o meio ambiente.
Estas são oportunidades em que os Institutos SENAI de
Tecnologia Ambiental e de Inovação em Química Verde
podem contribuir. Fale com o SENAI: (21) 3978 6100 /
aoestreich@firjan.org.br.
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TECNOLOGIA
AMBIENTAL