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PÁG. 2

1 A 14 DE MAIO | CARTA DA INDÚSTRIA

O

OPINIÃO

É hora de uma discussão ampla sobre

as medidas que podem ser adotadas

para minimizar os efeitos que a

Operação Lava Jato poderá acarretar

sobre investimentos e empregos.

As investigações resultaram, até o

momento, na suspensão formal

da contratação pela Petrobras

de 25 empresas no Brasil. De

acordo com pesquisa realizada

pela FIRJAN, no universo dessas

25 empresas, há 13 construtoras

responsáveis por 109 obras de

infraestrutura, duas gigantescas

unidades de refino, duas plantas

de fertilizantes e 31 contratações

de embarcações com 18 estaleiros

ameaçados de paralisação. São 144

empreendimentos no total. Somados,

eles representam cerca de R$ 420

bilhões em investimentos.

O risco de que novas empresas

passem a constar da relação de

investigados tem provocado a

interrupção de pagamentos pela

Petrobras contra quem nem sequer

está citado nas investigações. Toda a

cadeia de fornecedores foi atingida,

em especial os estaleiros. São

empregos de brasileiros que nada

têm a ver com atos ilícitos praticados

por seus superiores.

Um estudo recente elaborado

pela FGV e pelo CEDES estimou

que, sob o impacto da Lava Jato,

1 milhão de empregos serão

perdidos. O PIB poderá encolher

cerca de R$ 87 bilhões em 2015.

A paralisia econômica terá como

contrapartida a queda expressiva

na arrecadação de tributos e

contribuições sociais justamente

UM MARCO REGULATÓRIO PARA

OS ACORDOS DE LENIÊNCIA

Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira

Presidente do Sistema FIRJAN

– CGU, TCU, AGU, SDE, CADE e

sobretudo o MP. Outra é que todos

os campos do Direito estejam

contemplados ao se considerar as

punições. Uma terceira é que se

preserve a idoneidade das empresas

punidas para que elas continuem

a atuar nos grandes projetos de

infraestrutura. Um novo marco

precisa também destravar o crédito

para que as empresas resgatem

sua capacidade de investimento.

Finalmente, é importante que

empresas prestadoras de serviços

públicos se submetam às normas

de transparência aplicadas pela

CVM às sociedades de capital

aberto e, em paralelo, sejam

impedidas de realizar doações para

campanhas eleitorais. Com certeza,

tal medida evitaria a repetição

futura do

modus operandi

que está

na origem da prática criminosa

trazida à luz pela Lava Jato.

A Operação Lava Jato é histórica.

Pela primeira vez, os corruptores

são punidos. É extraordinário e

merece o mais irrestrito apoio o

esforço do juiz Sérgio Moro, bem

como do Ministério Público e da

Polícia Federal, para tornar o Brasil

um país mais ético e transparente.

A questão é estabelecer os

devidos marcos legais para que

os culpados sejam punidos, mas

sem que a conta seja repartida

com o conjunto da sociedade. É

chegado o momento de buscar

soluções que não prejudiquem as

investigações; punam os culpados,

mas preservem o equilíbrio da

atividade produtiva, em especial os

postos de trabalho de milhões de

brasileiros.

quando se discute a melhoria das

contas públicas. De acordo com

o estudo, serão cerca de R$ 5,7

bilhões a menos nos cofres de

União, estados e municípios neste

ano. As dificuldades para o sistema

financeiro nacional, em especial

diante do nível de endividamento de

alguns grandes grupos, também não

podem ser desprezadas.

Aos olhos da opinião pública,

sempre parecerá contraditório o

discurso de que é preciso salvar

empresas envolvidas em denúncias

de corrupção. Mas é esse o ponto.

Isso precisa ser dito com coragem

e sem hipocrisia. Uma coisa é

punir dirigentes ou executivos

corruptores. Outra, bem diferente,

é permitir que empresas quebrem

e arrastem com elas os empregos

de milhões de brasileiros. O que

está em questão é evitar a paralisia

do Brasil. É o Brasil que não pode

quebrar.

A melhor solução disponível hoje

envolve os acordos de leniência,

mas não sob a legislação em

vigor. Uma proposta factível é que

seja discutido e aprovado pelo

Congresso Nacional, em regime de

urgência, um marco regulatório que

redesenhe o relacionamento entre

as empresas e o Poder Público. A

discussão sobre o arcabouço legal

que vigorará para os chamados

acordos de leniência é parte vital

desse processo. Algumas premissas

teriam de ser respeitadas para que as

discussões cheguem a bom termo.

Uma delas é que seja válido para

as diversas autoridades envolvidas

* Artigo publicado no jornal O Globo, em 20 de abril de 2015