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23 A 29 DE OUTUBRO | CARTA DA INDÚSTRIA
E
ENTREVISTA
CARTA DA INDÚSTRIA –
Qual a atual posição do
Brasil no comércio internacional?
VERA THORSTENSEN –
O Brasil está encolhendo
as exportações, enfrenta hoje um momento difícil
na área do comércio internacional, perdendo
competitividade. Está isolado dos três grandes
desafios do comércio internacional. Primeiro, o
país não faz acordos regionais e não faz parte das
cadeias globais de valor. Quer dizer, não importa para
exportar. E não faz parte da OCDE (Organização para
Cooperação de Desenvolvimento Econômico), está
fora dos mega-acordos. Hoje, o que o Brasil exporta
é quase exclusivamente
commodities
para a China.
Industrializados, só para o Mercosul e porque tem
a preferência.
CI –
Em sua avaliação, o Brasil ainda está na fase
“OMC 1.0”. O que falta para o país entrar na fase
“OMC 2.0”, aderindo ao debate sobre os novos
paradigmas adotados nos acordos preferenciais?
VT –
O país colocou toda a sua ficha na Organização
Mundial do Comércio (OMC), que está só discutindo
as regras do comércio tradicional: de tarifa, de câmbio
etc. O que está acontecendo com as cadeias globais
de valor é que elas estão discutindo os temas que se
encontram fora da OMC, como as barreiras técnicas e
temas de regulação, concorrência etc.
CI –
Quais as parcerias preferenciais que o país deve
buscar no momento?
VT –
O Brasil sempre optou por Mercosul e África.
Só que esses mercados não dão o dinamismo
necessário, não são onde estão acontecendo as
tendências do comércio mundial. Tem que fazer
acordo com países ricos para participar das cadeias
globais. Não adianta ficar buscando acordo com a
América do Sul.
CI –
Qual impacto da aprovação do Tratado
Transpacífico (TTP) para o comércio exterior
brasileiro? Que setores serão mais impactados?
VT –
Os impactos serão significativamente negativos,
não só em termos de PIB como em termos de fluxo
de comércio. O acordo pode encolher as exportações
brasileiras em até 2,7%. As vendas do Brasil para o
exterior serão afetadas porque os produtos vendidos
entre os países envolvidos no tratado ficarão
comparativamente mais baratos. Os efeitos do TTP
deverão ser sentidos tanto no agronegócio quanto
na indústria. Um dos setores mais prejudicados
pelo acordo seriam produtos e preparados de
carne, com queda de 5,1% do PIB setorial. No caso
dos manufaturados, setores como máquinas e
equipamentos e produtos automotivos também
devem sofrer desaceleração nas vendas externas.
Divulgação
O Brasil deve buscar alternativas para
ampliar as exportações e sua participação
no comércio exterior. Nesse contexto,
o Tratado Transpacífico (TTP), acordo
comercial fechado em outubro entre
Estados Unidos, Japão e outros dez países,
cria desvantagens para o Brasil no mercado
global. A avaliação é de
Vera Thorstensen
,
presidente do Conselho Brasileiro de
Barreiras Técnicas ao Comércio (CBTC).
Ela participou de reunião do Conselho
Empresarial de Relações Internacionais do
Sistema FIRJAN.
DESAFIOS PARA O
COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO